terça-feira, 27 de setembro de 2011

Toalhas

Chegou do trabalho e foi espalhando chapéu, roupas, meias e sapatos pelo caminho que percorria. Os sapatos e meias pela sala, a bolsa no chão do corredor, a calça sobre o sofá. Quando enfim chegou ao quarto já estava nu. Pegou uma toalha que estava pendurada na cadeira, jogou-a sobre o ombro e seguiu para o banheiro.

O incrível prazer do banho depois de um dia tedioso de trabalho. Às vezes pensava que o trabalho não lhe fazia bem. A água lhe caía sobre sua cabeça. Pensava isso e logo se arrependia, pois gostava do trabalho. Gostava do que fazia, do setor de impostos e cobranças. A bem da verdade não era a burocracia que lhe incomodava. Fazia e refazia cálculos sem grandes problemas e só pensava que o emprego não lhe fazia bem por causa da fadiga que as pessoas que trabalhavam no mesmo setor lhe causavam, principalmente as que ocupavam as mesas ao lado da sua. “O que fazer? Tenho de suportá-las”, dizia resignado.

Assim seguia a vida: o trabalho e a fadiga, a fadiga e o banho, o banho e a solidão. “Finalmente!” bufava no intervalo entre a fadiga e o banho.

Depois de jantar, geralmente espaguete com variações nos ingredientes do molho de tomate, lembrava-se de alguma comemoração, algum encontro de velhos conhecidos. Apesar do desagrado que as pessoas em geral lhe causavam e todo o esforço que exigia a sociabilidade, comparecia a alguns desses eventos porque não queria parecer bruto aos olhos dos outros, principalmente daqueles com quem convivia diretamente. Ainda que a esses suportasse menos que os demais.

Quando ia a esses encontros sociais dedicava pouco tempo para decidir o que usar, coisa comum entre muitos. Somente quando chegava aos lugares reconhecia que devia ter se preocupado mais com a aparência. Primeiro porque, quase sempre, os lugares desses eventos “exigiam” isso, e segundo porque não queria parecer descuidado com a aparência diante dos outros.

Pegou um casaco no armário, olhou ao redor e saiu.