segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Mathilda, de Mary Shelley

Ando sumida (como sempre), né?! Apareço vez ou outra rapidinho, faço uma brincadeira e depois sumo de novo. Desde que comecei com o blog me propus a escrever, a exercitar minha escrita etc. e tal, mas cadê a disciplina? Sempre coloco outras coisas que nem são prioritárias à frente dos meus contos, das resenhas sobre as leituras etc. etc. etc.

Mas como este não é um post de lamentação e sim de opinião sobre um livro que li (e já terminei faz um tempinho), vamos mudar de assunto. Vamos falar de Mary Shelley, cuja obra mais famosa é Frankenstein. Mas não é deste que vou falar, não. Hoje é sobre Mathilda, uma novela escrita por Mary Shelley em 1820, e que só foi publicada pela primeira vez em 1959.

Na orelha do livro tem um resumo: "A mãe de Mathilda, Diana, morre no parto. Seu pai, em desespero, deixa a recém-nascida aos cuidados de uma tia e sai para correr o mundo. Quando Mathilda tem 16 anos, ele volta, mas fica pouco tempo em sua vida. O terrível tormento de reviver a paixão por Diana na filha o consome.". Trágico. 

E eu achei bem isso mesmo. A vida de Mathilda é um dramalhão do começo ao fim. E eu adorei! Primeiro, porque a novela é escrita toda em primeira pessoa. Mathilda nos conta sobre a tragédia que separou sua família, sua infância com uma tia muito rígida e fria no trato com uma criança, o (re)encontro com o pai e as mudanças que se seguem daí. Paro por aqui porque o acontece depois é importante para compreender todo o percurso descrito por ela desde o começo da narrativa.

Foto: Elaine Pinto

Confesso que vez ou outra achei esta personagem um pouco infantil, com uma exigência por atenção e afeto exagerada, mas acabou me parecendo compreensível. Afinal, ela é muito jovem, e afeto foi o que sempre lhe faltou na vida. Não sei como em nenhum momento ela recusa a aproximação do pai. não se revolta, pois ele parece egoísta ao deixá-la com uma tia e ir tentar curar o luto sozinho e longe dela. Ela se sente abandonada, e por isso a demanda por carinho. Isso é tão cruel, porque ela espera a cada dia pela volta do pai, para resgatá-la daquela casa fria em que foi criada e finalmente viver em família. E toda essa tragédia que é a vida dela não abre espaço para que ela pense em outras coisas, como casamento. Há um momento em que um rapaz deseja cortejá-la e ela nem se dá conta, não se importa. O que a move é o afeto do e pelo pai, mas como diz o resumo do livro ele revive em Mathilda a paixão que sentiu pela mãe dela, e, bem, isso complica a relação entre os dois.

***

Informações da publicação
Título: Mathilda
Autora: Mary Shelley
Tradução: Bruno Gambarotto 
1 ed. São Paulo: Grua Livros, 2015 (a arte da novela)


***
Seguem alguns trechos:

Começarei minha narrativa - é minha derradeira tarefa, e espero ter força o bastante para cumpri-la. Não registro um crime; meus erros poderiam ser facilmente perdoados; pois eles não são decorrentes de qualquer vileza, mas da falta de juízo; e creio que poucos dir-se-iam capazes, por conduta diversa e sabedoria superior, de ter evitado as desgraças de que sou vítima. (p. 13)

Assim, meu pai, nascido abastado e sempre próspero, ascendeu ao pináculo da felicidade sem as dificuldades e as inúmeras frustrações que todos os seres estão destinados a encontrar. Em torno dele tudo era luz solar, e as nuvens cujas formas de beleza tornavam a paisagem divina afastavam dele a realidade nua e crua que se escondia sob elas. (p. 21)

Sim, o que eu sentia era desespero; pois pela primeira vez apossava-se de mim aquele fantasma; primeira e última, pois desde então ele jamais me deixou... (p. 64)

A solidão também perdia para mim alguns de seus encantos - começava novamente a desejar o contato com os demais; não que eu estivesse todo tempo tentada a buscar multidão, mas desejava ao menos um amigo que me amasse. (p.105)


***
Mary Woolstonecraft Shelley (Londres, 1797- Londres, 1851), mais conhecida por Mary Shelley, foi uma escritora britânica, filha do filósofo William Godwin e da pedagoga e escritora Mary Wollstonecraft. Casou-se com o poeta Percy Bysshe Shelley em 1816. Autora de muitos livros, entre eles Frankenstein.