terça-feira, 29 de maio de 2012

Quando acordei...


Quando acordei, lembrei-me do sonho. Um sonho estranho. (Às vezes acho que já poder sonhar, ver e fazer coisas enquanto durmo, é algo incompreensível. Mas sonhamos ainda assim).
Foi um sonho longo. Muitas coisas aconteciam e tudo se misturava. As pessoas se misturavam umas nas outras e se transformavam numa terceira, pessoas que não conheço de verdade mas isso era completamente natural.

Chorei muitas e muitas vezes, e me via sempre só.

Estava na praia, no mar, nadando, até que não consegui mais, porém eu não afundava. As outras pessoas não me viam, e eu não conseguia sair do mar. Fiquei abandonada por horas, dias, sob o sol quente do verão. A consciência nunca me abandonava, o que não sei se é um privilégio ou um castigo. Sabia o que estava acontecendo, percebia que pessoas passavam ao meu lado. Eu as reconhecia. Fiquei tanto tempo com o sol sobre minha cabeça e meus olhos que não conseguia distinguir as pessoas das outras coisas.

Eu via tudo.

Penso que via.

E ninguém sabia que era eu ali, que estava imóvel, que estava indo e voltando com o bailar das ondas. Desisti de tentar sair. Desisti de tentar acordar os outros.

Foto/Edição: Elaine Pinto

Quando acordei, o sal parecia estar em todo meu corpo, eu parecia ter lutado a noite inteira contra as ondas, contra as algas. O sol deixou suas marcas na minha pele e eu levantei como de uma ressaca.

Finalmente saí daquele mar de ondas fracas, que vinham e voltavam com constância, que me levavam de um lado para o outro, e eu sem ter onde apoiar. E eu sem ter como sair. Deixei-me ficar. Deixei-me levar por essas ondas inoportunas, inofensivas. Deixei-me prender pelas águas infinitas, pelo calor, pelo brilho da luz do sol.

Era o dia perfeito, não fosse a ausência da liberdade.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Quero ser um grão


Quero ser grão de areia. Quero ser uma pedra que deita na praia. Quero sentir o vento. 
Quero ir... Abrir as asas, sonhar mais alto, decidir. Desistir, às vezes. Talvez seja mesmo hora. Hora de pensar, de plantar e de colher como diz o provérbio. Hora de ficar e deixar passar a tempestade, que me carrega para lá e para cá. 

Foto: Google

E eu nem sei mais como vim parar aqui...

Quero ser grão de areia, misturado no meio do povo, solto, livre, sem marca. Quero ser um grão de areia e ficar perto da concha, ser levada pela água e voltar ao abraço do sol. Quero ser grão de areia, mudo, pequeno, inteiro. 
Quero ser grão de areia e deixar meus irmãos espalhados por aí, seguir com o vento, não voltar naquele tempo atrás. Quero ser grão de areia, leve, sair, confundir, cegar, voltar à primeira praia, à primeira concha, voltar ao castelo.
Quero ser grão de areia porque o chão é feito para mim, porque ali não estou sozinho, porque sou eu e muitos.       Quero ser grão de areia para fazer a trilha, ter o horizonte, chorar sem ser visto.