Nessas
minhas novas aventuras literárias considerando a vida e/ou obra de mulheres
pelo mundo, eu ansiava por ler a autobiografia de Malala Yousafzai. Um dia fui
à livraria com a intenção de adquirir uma biografia de uma mulher que tenha
feito [e faça] a diferença no mundo. E saí de lá com a história de Malala.
Foto: Elaine Pinto |
Malala
é uma jovem paquistanesa que ficou conhecida no mundo inteiro depois de ter
sido baleada pelo Talibã, que tentou matá-la por ela defender, ainda muito
jovem, o acesso à educação para meninas.
O
texto é muito interessante porque não se atém apenas ao atentado sofrido por ela
e que a tornou conhecida mundialmente, mas o percurso dela desde muito jovem
ainda e também o de sua família, principalmente o de seu pai, que, segundo as
palavras de Malala sempre lutou para que crianças – inclusive as meninas – pudessem estudar. Algumas tradições
muçulmanas, os conflitos políticos no Paquistão e as relações com outros países
etc.
Para
mim é ainda difícil imaginar que meninas não possam estudar apenas por serem
meninas. Mas ao ler a autobiografia de Malala pude ver que para certas coisas o
mundo em que vivo não é tão diferente do dela. Mesmo que aqui (no Brasil) não
existam grupos contrários à educação de meninas e mulheres existem grupos que
são contrários a outros direitos de meninas e mulheres (por exemplo, este aqui).
Foi uma leitura muito interessante, aprendi muito. Mesmo considerando que é uma visão particular sobre alguns fatos para mim foi importante conhecer alguma visão, já que eu não sabia nada sobre o lugar (além das notícias políticas quando são de interesse mundial, como a captura de OsamaBin Laden).
Separei alguns trechos que mostram a visão de Malala sobre sua vida:
Minha mãe é muito religiosa
e reza cinco vezes por dia, embora não na mesquita, pois só os homens podem
frequentá-la. Ela desaprova a dança porque diz que Deus não gostaria disso, mas
adora se enfeitar com coisas bonitas, roupas bordadas, colares e pulseiras
dourados. Acho que sou um pouco decepcionante para ela, pois pucei a meu pai e
não ligo para roupas e joias. Fico entediada no mercado, mas adoro dançar
aportas fechadas com minhas amigas de escola. (p. 31)
Nasci num tipo de
democracia no qual, por dez anos, Benazir Bhutto e Nawaz Sharif substituíram um
ao outro no poder, sem que seus governos completassem o tempo de mandato e
sempre se acusando mutuamente de corrupção. Dois anos depois de meu nascimento,
porém, os generais mais uma vez assumiram o controle da nação. Isso aconteceu
de maneira tão dramática que mais pareceu coisa saída de cinema. Nawaz Sharifera
primeiro-ministro. Desentendeu-se com o chefe das Forças Armadas, general
Pervez Musharraf, e o exonerou quando o general se encontrava em um avião das
linhas aéreas paquistanesas, voltando de uma viagem ao Sri Lanka. [...] O
general Iftikhar, comandante local, dominou a torre de controle de Karachi para
que o avião pudesse pousar. Musharraf tomou o poder e atirou Sharif numa cela
em Forte Attock. [...] Sharif, acusado de traição, foi salvo por seus amigos da
família real saudita, que negociaram seu exílio. (p. 84-85)
Meu pai costumava dizer que
o povo do Swat e os professores haveriam de continuar a educar seus filhos
enquanto a última sala, o último professor e o último aluno estivessem vivos. Meus
pais nunca me aconselharam a abandonar a escola. Nunca. Embora amássemos
estudar, só nos demos conta de quanto a educação é importante quando o Talibã
tentou nos roubar esse direito. Frequentar a escola, ler, fazer nossos deveres
de casa não era apenas um modo de passar o tempo. Era nosso futuro. (p. 156)
O diário de Gul Makai
chamou muita atenção. Alguns jornais o reproduziram. Então a BBC o colocou no
ar usando a voz de outra menina. Comecei a entender que a caneta e as palavras
podem ser muito mais poderosas do que metralhadoras, tanques ou helicópteros. Estávamos
aprendendo a lutar. E a perceber como somos poderosos quando nos manifestamos. (p.167)
Quando me falam do que
aconteceu, da maneira como fui baleada, penso que se trata da história de
Malala, “a menina baleada pelo Talibã”. Não sinto que se trate de uma história
sobre mim. (p.315)
E para encerrar essa postagem, deixo esse vídeo em que Malala discursa na ONU e tem seu dua fala repetida por outras meninas ao redor do mundo que também lutam para ter acesso a uma educação gratuita, de qualidade, libertadora.