terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Conversa de Casal IV - Caminhos


Ele: Ah, nem é tão longe assim... o mercado.
Ela: É, mas se a gente tivesse vindo direto pela outra rua e virado à esquerda aqui na frente, seria mais rápido ainda, não?
Ele: Não. Seria a mesma coisa.
Ela: Eu achava que era mais rápido...
Ele: Mas não é...A gente virou à esquerda e seguiu direto, daria no mesmo fazer o que você falou, seguir direto e virar à esquerda.
Ela: Puxa, você destruiu os meus sonhos agora!
Ele: Deve ser bom estar casado com alguém que destrói teus sonhos.


domingo, 22 de dezembro de 2013

Quando penso*


Quando penso que não tenho nada, lembro-me de que a vida está se construindo, que começa e termina a cada dia, a cada nova e mesma tarefa, cada refeição.

Quando penso em dois estranhos que um dia se esbarram na rua ou se sentam lado a lado durante a aula, e seguem estranhos um para o outro ao longo de uma vida que planejam juntos, vejo nisso a beleza.

Quando penso que você está para chegar, alegro-me profundamente e começo a contar quantos dias ainda faltam. Crio desenhos na minha cabeça, vejo a casa iluminada para te receber.

Todos os outros também estão eufóricos.

Penduramos faixas nas imensas janelas da sala e também descendo pelo corrimão. Trocamos todos os móveis de lugar, fazemos doces e os colocamos sobre a mesa, um bolo e alguns enfeites. Espalhamos almofadas pela sala e pelo jardim. (A grama está mais verde hoje!). Enchemos balões de todas as cores, porque ainda não sei de qual você gosta mais. A casa está radiante para esse dia de festa.

Quando penso que você vai chegar a qualquer momento minhas mãos suam e tenho vontade de dançar, de sair correndo, de te encontrar logo, de não ficar para ver você chegar, de encurtar o caminho.

Invento histórias sobre as flores cantantes, japoneses gigantes e insetos domésticos. Investigo memórias, e vejo que nos meus tempos de criança eu não esperava por você. Não é uma vida triste. Escondo os guardanapos da padaria para te mostrar algum dia, são lembranças fotográficas perdidas. É que quando você chegar vai ter muita coisa para fazer, novidades surgirão a todo o momento e eu quero guardar as cores, os círculos e todas as formas daqui para te mostrar, como os balões.

Quando penso que você vai chegar e vai me levar também para viajar por mundos coloridos e me mostrar tuas invenções (porque eu não vou conseguir te mostrar tudo), nada mais vai ser igual. E você vai querer ser você, vai querer ver outras cores, vai me contar o que viu (quem sabe se vai querer mesmo) e sair correndo também.

Quando penso que você está tão longe no espaço-tempo, e eu já nem sei se vou mesmo te ver, meu coração aperta por dentro, e me faz tremer. Quando penso que você ainda não está aqui, mesmo assim sinto saudade, mesmo que você ainda não seja nem corpo nem mãos, e não tenha os cabelos crespos como os meus. 




*Para um futuro