domingo, 27 de outubro de 2013

Anos Felizes


Eu sei que este não é um blog de crítica ou resenhas, mas hoje vou mudar um pouco a temática, apenas a título de exercício e atualização do blog.

Há algumas semanas assisti ao filme Anni felici (que em português significa: Anos felizes), do italiano Daniele Luchetti. A história se passa nos anos setenta em Roma, Itália, e é sobre um casal que vive uma intensa paixão, mas que, com a mesma intensidade da paixão, está sempre às turras.


Foto: Cineblog.it


Guido é um escultor que tenta ter seu trabalho reconhecido, dá aulas em seu estúdio e cuida dos filhos junto com a esposa, Serena. Ela é dona de casa, ciumenta, pouco interessada em arte, mas muito apaixonada por Guido. O filho mais velho, o narrador da história, em algum momento diz que Serena sabia convencer Guido de qualquer coisa, apesar de não gostar de arte mas ser totalmente interessada naquele artista. Os filhos, dois meninos, Dario e Paolo são bonitos e espertos e sempre que o pai está em seu estúdio trabalhando com modelos para produzir suas obras os dois são expulsos pelo pai.

Guido deseja ser independente através de seu trabalho artístico, seja para provar para a sogra que é capaz de sustentar a casa – como convém a um homem adulto, um “pai de família” – seja para mostrar à própria mãe que ele é bom naquilo que faz. Essas intenções não estão na linha de frente do filme, mas é possível perceber essa preocupação tanto pelo narrador – que é o filho mais velho contando parte da história – como pelas cenas em que Guido vai visitar a mãe e a família de Serena.

O escultor tem em Serena e nos filhos uma espécie de refúgio para onde pode voltar quando as coisas não saem exatamente como planejadas. Como, por exemplo, na sua performance em uma galeria de Milão e que foi criticada negativamente. Ao mesmo tempo ele deseja manter a família, esse porto-seguro, afastado do seu trabalho, principalmente Serena só que ela o contraria muitas vezes.

Sentindo-se desgastada com essa intensa busca por manter Guido perto e manter-se a par do que acontece com ele, como não ser apresentada aos amigos de Guido ou dele não permitir que ela assista suas performances (e quando ela o faz para surpreendê-lo, acreditando que ele vá gostar da surpresa, ele se sente humilhado), ela decide “dar um tempo” nessa relação que também se mostra fatigada.

Serena viaja para a França com os filhos a convite de Helke, que trabalha numa galeria onde Guido tem algumas obras expostas à venda, para um encontro de feministas. Durante a viagem as duas acabam se envolvendo.

Guido se sente contrariado com a viagem de Serena e dos filhos, com esse afastamento, pois a recepção de sua performance em uma galeria em Milão não foi positiva, e ele – ao que parece – esperava ser amparado pela esposa mesmo ela não sabendo das críticas que ele recebeu porque ele queria poupá-la. O mundo de Serena então se amplia a partir dessa viagem, e ela até se esquece de sua mãe dizendo que ela deu dois filhos a Guido e isso sempre o levaria de volta para ela. Serena percebe que o mundo é maior e oferece mais possibilidades do que ela pensava antes.

De volta a Roma, e de volta para Guido, Serena não se esquece de Helke. Ela percebe que Guido é sincero ao dizer que as relações que ele mantém (ou mantinha) com as modelos que posavam para ele não interferem no que ele sente pela esposa. Porém quando Guido assiste a um vídeo que o filho mais velho faz da viagem desconfia de que tenha sido traído. Serena confirma o envolvimento com Helke e se dá conta de que isso tem interferido na relação entre os dois.

É interessante observar que o mundo de Serena era completamente voltado para o marido e os filhos. Todo o resto não interessava a ela. Até que Helke pergunta o que Serena deseja. Ela responde que deseja a felicidade de Guido, que ele se realize como artista, que ele se encontre. Por que este é o desejo dela? Não deveria ser o de Guido? Serena não estava nutrindo os próprios desejos, ela os projetava às realizações do marido. Parece que para Serena se Guido estivesse satisfeito com o próprio trabalho, e nisso talvez possamos entender como bem sucedido, reconhecido etc., a relação entre os dois melhorasse, isto é, ela não ficaria “restrita” ao lar.

Devastado com a revelação da esposa do envolvimento com Helke, Guido concentra-se no trabalho, retoma alguns projetos e faz uma bela escultura (que é a “essência” de Serena, tanto quanto pude entender) que dá novo significado à sua arte. Os dois tem uma bela despedida.


Guido se sente contrariado com a viagem de Serena e dos filhos, com esse afastamento, pois a recepção de sua performance em uma galeria em Milão não foi positiva, e ele – ao que parece – esperava ser amparado pela esposa mesmo ela não sabendo das críticas que ele recebeu porque ele queria poupá-la. O mundo de Serena então se amplia a partir dessa viagem, e ela até se esquece de sua mãe dizendo que ela deu dois filhos a Guido e isso sempre o levaria de volta para ela. Serena percebe que o mundo é maior e oferece mais possibilidades do que ela pensava antes.